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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

À porta da escola



À porta da velha escola vê-se que não é tão suja quanto os gabinetes de onde a abandonaram, os engravatados. Da sujeira da escada da porta da velha escola nasceu o futuro. Filho da mistura; das vísceras expostas, do sangue, da placenta e da dor de uma nação.

Da violência de um parto sem parteira - de anestésicos, boas intenções e máscaras; mas sem abraços- irrompeu ao mundo, não sem dor, o filho nosso que ninguém quer. Os professores-adotivos-parteiros-alquimistas têm nas mãos o feto subnutrido, suprimido e sem esperança que ninguém quis. Mas que destinado à vida foi, à mercê da própria sorte, aos pés de uma suja escada de alguma cansada-esquecida-escola, velha de guerra, qualquer. 

Mas a velha escola é menos suja que a verdadeira face - aquela por detrás da maquiagem modernosa - dos gabinetes público-privados, de onde as ordens vêm. Onde as canetas assassinam, as medidas públicas abandonam e as privadas se confundem entre bundas, camarotes e enriquecimento ilícito. Onde os bolsos transbordam, os corações esvaziam e os olhos pouco vêem.

Desinvestir a mágoa, descontrair o peito e a feição. Respirar. Respirar. Respirar.

À porta da escola o ar é rarefeito. Parece não querer desperdiçar-se de intragável que se ressente.

Mas o filho nosso na porta da escola ainda quer viver. 

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